quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Fases da vida

Nós, seres humanos, vivemos desde o início da formação da nossa consciência de existência própria e de existência do mundo que viemos de algum lugar e estamos indo para algum lugar, mesmo que nenhum de nós saiba dizer exatamente qual lugar é esse.
O interessante nisso tudo, nessas teorias de que a vida não termina depois da morte, ou várias outras especulações enfatizam de modo exagerado o oculto ( de onde viemos e para onde vamos ) e nos faz esquecer do essencial: Onde estamos nesse momento.
A criança nasce, mas não com a plena consciência de que ela nasceu. Após alguns anos, a criança se dá conta da própria existência, e logo em seguida começa a se perguntar sobre suas origens e seu destino.
A partir do momento que a origem da criança está clara em sua mente, ela vai à procura da outra resposta, a que todos nós procuramos saber: Qual será o meu destino? Então, de acordo com que o tempo passa, a criança começa a notar mudanças significativas em seu corpo, em suas vontades, em sua rotina...  Ao olhar no espelho já sente a diferença. Já não é tão baixinho mais, seu corpo já está quase como o do pai ou o da mãe. Suas atitudes então passam a ser diferentes, pois sabe que já não é mais uma criancinha para ter certos tipos de comportamento. Suas vontades passam a ser cada vez mais próprias e imediatas e o sorriso diante da aparência adulta resulta em uma auto-confiança incomum.
Então chega a hora de pensar nas decisões  a tomar, no destino a seguir. Aquele mesmo destino que parecia incerto apresenta alternativas de escolha. Então na Universidade as escolhas se acentuam cada vez mais e o sonho de que seu destino seja um destino brilhante aumenta a cada dia que passa antes de sua formatura.
O primeiro emprego parece distante, coisa de adulto. Precisa-se ser responsável, chegar na hora certa, dar duro, se matar. Isso se chama responsabilidade. Coisa de adulto também. Será que um dia vou conseguir?
Então o vento da sorte assopra com força e quando menos se espera, aquela criança que há anos atrás não tinha sequer conhecimento  de sua própria existência está bem empregado numa das melhores instituições do país. Sucesso? Talvez... Deslumbrado com a expectativa do primeiro salário, se empolga cada vez mais em sua função. Dias e noites pensando no quão boa sua vida se tornara de repente.
Então vem o segundo, o terceiro, o décimo, o vigésimo e o centésimo salário e o corpo jovem se sente obrigado a ter uma mente adulta. É necessário para a manutenção de seu emprego, mesmo que lhe custe deixar de realizar coisas que lhe satisfaziam e lhe davam prazer. Logo o trabalho ocupa o primeiro lugar, as namoradas e amigos ficam em segundo. Piora um pouco quando o segundo lugar também é ocupado pelo trabalho, isso dá um baque na vida pessoal de qualquer um. Mas quando chega a ocupar também o terceiro lugar, a vida pessoal de qualquer pessoa já está totalmente desestruturada, o que não é muito ruim, pois o trabalho deve estar sempre em primeiro lugar.
Anos depois, no momento em que dificuldade financeira não existe mais em qualquer dicionário que se encontre em casa, o sujeito vê o quanto trabalhara, o quanto construíra, e o quanto fora enganado ao pensar que a vida era dentro de um escritório, ao pensar que os amigos eram alugados e os filhos seriam perfeitos e pequenos para sempre. O trabalho já não é mais tão importante quanto a vida lá fora, e para os que sempre viveram, os que vivem sem tempo não são saudosos, pois nunca estão por perto.
Até que chega o fim da vida. Aquele destino misterioso está prestes a se revelar. O sujeito engravatado, homem de sucesso e bem falado na praça desfalece numa cama do mesmo jeito que o pobre analfabeto e se esvai no tempo. E após cruzar a fronteira se pergunta: A vida era mesmo só isso? Nascer, crescer, trabalhar e morrer? Então ao chegar em seu destino final alguém lhe diz:
- A vida sempre foi muito mais do que isso, pena que você estava ocupado demais para observar e aproveitá-la.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Felicidade Passageira


Ao abrir os olhos a manhã me invadiu. A neblina ainda se espalhava pelo ar e tudo ainda estava denso... frio... porém claro e lindo. Os passos pelo chão frio da casa me fizeram lembrar de que mais um dia estava começando e logo logo o sol estaria ali esquentando aquele piso de azulejos brancos.
O canto dos pássaros e a maravilhosa conversa na padaria ao pedir pastéis e suco de laranja para o café sempre dão uma poesia a mais nas manhãs frias de julho. Um bom livro depois dos pastéis sempre cai bem, debaixo do sol fraco a aquecer o casaco de moletom.
Tudo tão diferente, tão iluminado. Em dias assim, observar o tempo passar é a melhor maneira de aproveitar algo tão esperado em todas as casas por todas as pessoas. Todo motivo para sorrir se resume em um único motivo:
HOJE É DIA DE PAGAMENTO!! *_*

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Como assim?

Gente... nas minhas voltas pelo face encontrei isto:

Muitos vão dizer: Não falo nada! Mas não fala nada por que?
Essa imagem é uma prova real de que se a pessoa não for aparentemente ameaçadora, ela não merece respeito. Será que o ser humano só consegue respeitar as pessoas quando se sente oprimido? Deve ser por isso também que respeitamos tanto esse governo que nos oprime e massacra cada vez mais, respeitamos tanto as políticas econômicas que acabam cada vez mais rápido com o nosso salário. Mas e os gays, lésbicas, transexuais e até mesmo os heterossexuais...? Precisam andar pela rua espumando pela boca como um cão raivoso para manter o respeito alheio?
Se isso funciona, gente, precisamos de mais professores bombados para dar jeito nessa criançada sem educação de hoje em dia, precisamos de bandidos bombados para oprimir policiais corruptos e de policiais bombados para oprimir bandidos e estupradores. Afinal... Será que é por isso que as academias hoje em dia vivem lotadas?
No final, todos sabem que no mundo hoje em dia funciona a lei do mais forte, seja fisicamente ou financeiramente. Mas não devemos respeitar as pessoas pelo que elas aparentam ser, mas sim pelo que elas realmente são. O que tem demais um casal gay andar na rua de mãos dadas? Por que eles são motivos de piadas para a sociedade? Galera, eles são seres humanos também, e até o momento em que não te prejudicam em nada, não há motivos para odiá-los, tentar rebaixá-los, fazer passar por ridículo.
Você que ainda age assim, se pensa que está sendo engraçado, eu te dou um aviso: CUIDADO, afinal uma hora a graça acaba.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O frio sozinho



O inverno chega e com ele a sensação de que nossas roupas não conseguem nos aquecer mais. O edredom não é mais tão aconchegante como de costume e o banho demorado passa a ser torturante quando pensamos em desligar o chuveiro quente. Os pés já não se aquecem tão facilmente e é difícil passar sem uma xícara de café ou um copo de chocolate quente.
O frio é repulsivo, egoísta. Só se sente quando se está sozinho, pois quando o coração está aquecido não há lugar para uma partícula de neve sequer. O edredom se aquece mais rápido com mais um par de pés ali debaixo, o chocolate fica mais saboroso quando é dividido e o banho fica mais gostoso quando se sabe que ao sair dali, tem alguém de braços abertos pronto para te aquecer.
O enigma do inverno é decifrado quando é vivido a dois... três ou mais. Não importa. O importante é lembrar-nos de que uma faísca sozinha não forma uma fogueira, precisa do combustível. Uma brasa sozinha não aquece, precisa de mais lenha. Você sozinho não é tão forte quanto pensa, então, que tal aproveitar o inverno para dividir a fogueira, o chocolate ou o edredom?

Ps: amigos também dividem.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Noite


Mais um dia...

Daqueles sem graças e vazios em que tudo o que seu interior pede é um pouco de silêncio e paz para que tudo o que sua cabeça vem planejando se coloque em prática e se revele produtivo, de alguma forma.
Morcegos e baratas se confundem nas ruas noturnas, assim como carros e caminhões quase se fundem no trânsito infernal do meio-dia.
Formigas queimadas pela enorme bola de fogo que aponta no céu todos os dias, sucumbindo a humanidade ali, debaixo de seus olhos de faísca. 
Máquinas de serra: serrar piso, serrar aço, serrar ferro, vidro... Máquina de costurar, de estampar, de colar, descolar, alinhar, balancear, compressores, vozes, gritos e o que mais incomodava... Os saltos da vizinha no andar de cima aumentando cada vez mais a vontade de preparar uma artilharia pesada para abatê-la como um pato no ar abatido por uma carabina antes mesmo que se resolva levantar e subir um lance de escadas para esbravejar e falar coisas desnecessárias à uma loira totalmente desligada das necessidades artísticas.
Ana Maria Braga, Bem Estar, Fátima Bernardes... Ninguém além de mim se cansa desses programas toscos que marcam as manhãs com náuseas todos os dias? Odeio manhãs! Odeio ter que acordar todas as manhãs!
Na ânsia de tudo mudar, pode-se sentir o coração se acalmar quando o sol cai à margem do horizonte, o bebê pára de chorar, as formigas se refrescam, as britadeiras, serralherias e oficinas param de funcionar. E o silêncio vem...
Junto com ele a inspiração. Os dedos se mexem sozinhos em direção à caneta. O cheiro de papel branco e novo fascina, e os olhos não sossegam até que todo o espaço vazio do papel esteja preenchido de letras miúdas e conteúdos importantes, longe das atividades cotidianas do dia-a-dia.
A madrugada pede silêncio, ousadia e conhaque. Tudo o que se precisa para fazer o progressivo ritual de escrever. Mas é necessário mesmo fazer tudo isso simplesmente para escrever?
Não simplesmente, afinal, escrever envolve muito mais do que um simples verbo, uma simples ação, o simples fato de pegar uma caneta e preencher um pedaço de papel. Acontece que, somente quem lê sente a necessidade de escrever, o que é diferente de vontade. 
A madrugada não inspira apenas palavras. Sujos de coturno, limpos sem moeda, podres em terno de veludo e milionários em sua ânsia de exibir todo o seu poder nas ostentarias variadas da cidade também caem em suas armadilhas e ciladas. Em cada esquina se pode encontrar a glória e o perigo, o que são meros mitos, quando se está num quarto quente de casa em silêncio, ouvindo a quietude, inspirando inspiração com o aroma de essências a lhe preencher a mente, pronto para se deixar envolver por toda atmosfera pacífica presente ali. E no fim, ao descarregar todas as idéias da mente, preenchê-las com idéias diferentes é o atrativo para o sono e o descanso.
Em fim em paz... por pouco tempo, já que no outro dia começa tudo de novo...

terça-feira, 10 de junho de 2014

Olhos para que?


Sempre ouvi de meus professores que eu deveria apresentar meus trabalhos, escrever meus textos ou responder as questões com minhas próprias palavras. Pensei então, no quanto difícil isso seria. Não que eu não soubesse o que eles queriam dizer com isso, mas a verdade é que era muito difícil descrever algo com minhas próprias palavras, já que todas as palavras que eu sabia não eram minhas.
Apesar de tanto pensar sobre isso, nunca consegui entender o porquê de todas as palavras que eu sabia já terem sido faladas por outra pessoa. Decidi então buscar o motivo, a resposta para a então grande questão da minha vida.
Devorando os livros infanto-juvenis, passando horas e horas debaixo das cobertas apenas com a cabeça e a mão segurando o livro para o lado de fora do edredom, tive contato com vários mundos e várias pessoas até então desconhecidas, tive emoções boas e ruins, todas através das palavras de outra pessoa, que se fixavam na minha mente de forma integral.
O tempo passava e eu me questionava sobre o porquê de minhas próprias palavras não existirem. Seria falta de personalidade própria? Seria mesmo que eu realmente não tinha dom, vocação, ou sequer uma pequena inclinação para a coisa? Já não estava contente com essa falta de respostas.
Numa dessas tardes de devaneio, peguei o papel e a caneta para ver se conseguia rabiscar algumas palavras, alguma coisa vinda de dentro, do fundo da alma, assim como lia nas poesias antigas de Drummond. Cheguei a pensar que o ópio de muitos autores talvez pudesse ter-lhes trago alguma inspiração, alguma lente de contatos que pudessem abrir a visão para um mundo novo, um novo conceito de realidade descrita com minhas próprias palavras. Cheguei até a esboçar alguma coisa, mas não consegui dar continuidade, afinal, não havia o que escrever, não havia o que contar. Decidi então sair.
Caminhando pela beirada do rio, observando a paisagem calma e serena de um lado e a cena mais tumultuada, suja e barulhenta do outro lado da rua onde carros, caminhões, motos e tudo o mais que pudesse tirar a paz de um sujeito em busca de um pouco de natureza. Eu não conseguia entender como esses dois polos tão diferentes poderiam estar tão perto.
Avistei então, entre as árvores - mais para o lado do rio que para o lado da pista - um banco de madeira livre e decidi me sentar. O banco estava vazio, mas havia lugar ali para mais duas pessoas. Aproveitei para me acomodar como queria e observar um pouco o rio e suas curiosidades, havia tempo que eu tinha estado ali. Vagando em devaneios, quase me esqueci da hora, já estava entardecendo e o sol começava a baixar. Olhei para a linha vermelha do horizonte admirando a perfeição com que os detalhes da natureza eram mostrados todos os dias, então quando me virei novamente, avistei ao meu lado um homem.
No começo não me preocupei muito, ali não era um lugar perigoso e havia muita gente passando por ali naquele momento, mas o homem parou bem na minha frente e pediu para se sentar. Seus óculos escuros não se curvaram na minha direção, continuaram direcionados para o horizonte, foi então que eu pude perceber que ele era cego. Então, cheguei para o canto e disse que sim, o homem devagarzinho se sentou ao meu lado e tirou uma sacola da pochete que carregava na cintura. Um por um, começou a jogar pequenos pedacinhos de pão de milho para os passarinhos que ali pousavam.
Aquilo me despertou o interesse. Apesar de ser cego, o homem sabia que eu estava sentada no banco e sabia também que ali havia passarinhos para comer suas migalhas. Como isso seria possível? Então decidi perguntar, entre tantas dúvidas, aquela eu não poderia deixar passar.
Como o senhor sabia que eu estava sentada no banco?” – Perguntei. O homem colocou um dos pedacinhos de pão na própria boca e só respondeu quando acabou de mastigar.
Eu vi.” – Respondeu o homem com a mesma calma com que mastigava. Aquilo me encabulou.
Viu? Mas o senhor não é.....” – Antes que eu pudesse continuar a frase o homem completou-a para mim.
Cego? Completamente.” – Colocou outra migalha na boca e só continuou a falar depois de engolir. “Mas sou cego só com os olhos.”
Aquelas palavras me atordoaram. Como ele poderia dizer essas coisas com tanta convicção? Como ele poderia enxergar se não fosse com os olhos? No meu silêncio imaginei o que o homem teria vindo fazer ali, o que o atraiu ali, logo onde eu estava?
Vim passar o entardecer, como faço todos os dias” – Começou o homem vagarosamente enquanto eu o fitava com olhar de gavião, curiosíssima a respeito daquele completo estranho. – “E nunca te encontrei por aqui. Você me parece um tanto quanto atordoada. O que te preocupa?”
Impossível. Ele não era cego. Eu estava disposta a ir onde fosse para provar para mim mesma que aquele homem não era cego. Na verdade eu desconfiava também de que ele não era nem humano.
Vim passear, estava precisando respirar, sair de casa.” – Respondi entre os dentes. Ele não entenderia o que eu estava passando, afinal, não tinha sentido um cego ler ou escrever.
Isso é um tanto quanto clichê, todos que passam por aqui sempre estão em busca de paz, coisa que parecem não encontrar em casa.” – Disse o homem com propriedade, tão certo do que falava que me surpreendeu.
Alguém te falou isso?” – Perguntei ao homem me sentando mais perto e observando os pombos que estavam se aglomerando no chão. Eu odiava pombos, nunca vi animais mais porcos. Talvez ele não pudesse perceber, mas tinha tanta migalha no chão que os pombos começavam a fazer uma festa particular.
Não, eu mesmo percebo. Não preciso que alguém me fale algo para sair repetindo, menina. O que há com você? Não sou um monstro de outro planeta, sou apenas... cego.” – Apenas cego! Ok. Era o suficiente. Como uma pessoa que era apenas cega poderia me dizer tais coisas com tanta riqueza de detalhes?
Mas como sabe de tudo o que acontece a sua volta? Como consegue descrever tudo com tanta... poesia, mesmo sem enxergar nada?” – Questionei buscando finalmente uma resposta. O homem pela primeira vez me pareceu surpreso com alguma coisa que eu dissera, guardou o saco de migalhas e cruzou as mãos em cima do colo.
Posso não enxergar com os olhos, mas tenho algo dentro de mim que nada irá tirar. Já vivi um pouco antes de me tornar cego, e o pouco que vi me mostrou que a vida precisa de um toque doce para sair da inércia.” – Disse-me o homem devagar, depois coçou a barba por fazer e suspirou. – “Talvez se eu tivesse meus olhos não teria tanta coisa para dizer.”
“Como assim?” – Questionei-o. Eu ficava a cada momento mais confusa com aquilo tudo.
O homem suspirou, parecia procurar as palavras apropriadas, ou talvez as próprias palavras. Tudo nele me parecia um tanto quanto estranho, diferente, até a atmosfera ao seu redor era mais macia, menos densa. Em determinado momento até os pombos deixaram de me incomodar.
Quando se tem olhos, costumamos pensar que todas as coisas que há no mundo estão ao alcance de nós só porque nós podemos vê-las. Mas não estão. – Disse o homem. – Devemos tocar, devemos tocar o barro para saber que textura tem. Devemos saborear a maçã para saber que gosto tem. Não adianta que nos falem como é o doce, nunca vamos saber se até hoje só provamos coisas de sal.”
“Então tudo o que diz é com suas próprias palavras? Ou melhor, tudo o que você diz é derivado daquilo que já experimentou?” – Perguntei finalmente chegando ao ponto onde queria. Fazendo pela primeira vez a pergunta adequada, já não me preocupando mais se o homem era estranho ou não.
Claro. Como não se pode enxergar com os olhos de alguém, não se pode também viver experiências de outras pessoas. – Respondeu-me – Se realmente quer encontrar suas próprias palavras, não se restrinja a ler as experiências alheias. Viva suas experiências e as escreva, assim, essas serão suas próprias palavras.”
Quando terminou de falar o homem virou a cabeça em minha direção como se realmente conseguisse me enxergar. Tirou os olhos, o que me permitiu ver o azul de seus olhos. Era realmente uma pena que olhos tão bonitos não pudessem enxergar tudo de belo que há no mundo. Após aquele encontro, quase todos os dias eu estava naquele banco daquele mesmo lugar. Encontrei com Paulo por algumas vezes, e o esperei sentada no banco na tarde de uma quinta-feira ensolarada quando percebi que ele não viria. Mesmo antes da hora dele aparecer eu sabia que ele não viria. Com meus novos olhos poéticos descrevi seu sumiço como uma “visita particular e demorada á alguém especial que queria muito me ver também, mas não agora.”

E assim descobri - por caminhos totalmente contrários aos que imaginei - que minhas palavras viriam através dos meus olhos, meus pensamentos e meus atos, vinham do meu eu, do meu interior, fruto da minha personalidade e fruto de tudo o que eu já havia experimentado.